Atelier da Calheirinha by Tita Maltez
“O empreendedorismo não é um mar de rosas, as pessoas têm de estar preparadas”
Tita Maltez é a criadora do Atelier da Calheirinha, uma alcunha carinhosa que o avô costumava chamar-lhe. Aventurou-se no mundo da costura para poder ter tempo de conciliar o trabalho com a vida familiar e hoje é o rosto por trás de encantadoras peças de roupa para crianças. Seja para usar no dia-a-dia, em cerimónias ou ocasiões festivas, a empreendedora aceita até pedidos personalizados, valorizando os feedbacks atenciosos e as fotografias dos rebentos que as clientes lhe enviam.
“Calheirinha”, corrige-me Tita Maltez, quando digo mal o nome do seu atelier. “É a alcunha carinhosa que o meu avô me chamava”, conta. Um nome especial que batizou este projeto iniciado em 2014 que arrancou com a premissa base de poder ser um trabalho que desse para conciliar mais facilmente a vida profissional e familiar. “Sempre gostei de trabalhos artesanais, sabia o básico, mas fui à procura, tirei formações e aprendi muitas coisas”, conta a empreendedora, enquanto prepara o almoço naquela que é a sua sede de trabalho: casa. “92% das minhas vendas são feitas on-line, através das redes sociais, por isso não me compensa pagar dois alugueres”, afirma.
Quando se lançou por conta própria, “não sabia nada. Agora penso e vejo que fui muito de cabeça. Na altura, parti daquilo que queria fazer e do que sabia fazer. Foi um percurso cheio de altos e baixos, precisamente por não saber bem o que pretendia, mas acabou por dar certo. Neste momento, já sei que peças quero fazer, que gamas, que coleções”, comenta, levantando o véu sobre onde vai buscar a inspiração. “Às coisas do dia-a-dia. Às vezes, vou a conduzir, vejo um azulejo engraçado e aproveito aquilo para as peças. Vejo apontamentos que me despertam e passo essas sensações para as peças. Também ajuda auscultar as mães, ir perguntando os gostos”, refere.
Um negócio que foi crescendo não só pela arte das mãos de Tita Maltez, mas porque ela também investiu muito tempo em todas as outras áreas inerentes. “Hoje em dia, quem quiser crescer, tem de fazer cursos, ou contrata ou tem de saber fazer. Eu fiz uma formação de Marketing de 200 horas e quero que as minhas colegas percebam que não chega ficar pela profissão de artesãs, têm de saber usar as redes sociais para evidenciar o produto e contactar com os clientes”, salienta. A gestão de negócio, confessa, foi a maior dificuldade neste percurso.
“Eu sou criativa, não sabia nada de gestão. Sabia gerir a minha casa, mas gerir um negócio é completamente diferente. Gestão de stock, dar entrada/saída, os primeiros quatro anos andei a trabalhar em cima da corda. Neste momento, tenho uma mentora de negócios porque senti necessidade de ser acompanhada e fazer parte de um grupo. Quando partilhamos, as dificuldades parecem menores”, diz.
A melhor parte é, claro, ouvir o feedback das clientes, algumas delas que encomendam roupa para os filhos desde o início, o que permite que Tita Maltez vá acompanhando as várias fases de crescimento da criança. “Dizerem que as peças ainda são mais bonitas ao vivo, que a qualidade nota-se, todas as relações que fui construindo ao longo dos anos, as fotografias que me enviam, ver uma peça numa criança, fazer a primeira roupinha, a roupa do batizado, os primeiros Natais...”, enumera, enternecida. Mas não esquece: “O dinheiro também, claro”, aponta, entre risos, “Faz falta, temos de mudar o mindset acerca do dinheiro, saber precificar. Eu tinha dificuldade, andava muito atrás do que o mercado tinha, mas os trabalhos nunca são iguais, temos valores diferentes”. Nas suas peças, tem um leque variado, mas privilegia os “enxovais de nascimento” (até aos 12 meses) e roupas para cerimónias e ocasiões especiais (batizado, entrada na pré-escola, Natal). Consegue “tirar medidas à distância” e aceita pedidos personalizados.
Como conselhos para futuros empreendedores, sugere: “Façam um bom plano de negócios, planifiquem bem, incluam até os sonhos mais absurdos. Mesmo que não consigam cumprir tudo, as pequenas coisas ajudam. Eu planeio semanalmente o trabalho e ajuda bastante, especialmente com duas filhas pequenas a meu cargo. Noto logo quando relaxo no planeamento, faz-me falta”. Em caso de se sentirem perdidos, “procurem. Há tantas pessoas que ensinam, basta ter força de vontade”. Tita Maltez deixa, contudo, o alerta:
“O empreendedorismo não é um mar de rosas, as pessoas têm de estar preparadas para fazer sacrifícios”.