Deslumbrante
“A vantagem de trabalhar por conta própria é temos mais tempo para nós”
Carla Sofia Pinho viu o desemprego como uma oportunidade de se lançar por conta própria. Gostava do seu trabalho anterior – escolhedora de rolhas de cortiça – mas um despedimento coletivo deu-lhe o empurrãozinho necessário para se dedicar a uma área pela qual sempre nutriu uma apetência especial: o vestuário. Há meses melhores e outros piores, vai gerindo e fazendo ajustes ao longo do tempo, mas confessa que se fosse hoje talvez o empreendedorismo não estivesse nos planos.
‘Deslumbrante’ foi o nome escolhido para a loja de roupa que Carla Sofia Pinho decidiu abrir em 2019. Na altura, procurou a ALPE para “aconselhamento e ajuda”, acabada de sair de um despedimento coletivo na cortiça. “Era escolhedora de rolhas e gostava do que fazia, mas queriam que trabalhássemos por turnos e não me era possível”, conta. Desta forma, encontrou uma alternativa que lhe permite liberdade e exercer um gosto que sempre teve pelo vestuário. “Os pais do meu marido tinham uma loja vazia em S. João de Ver e aproveitámos”, revela. O primeiro ano “correu bem”, mas logo veio um bicho chamado Covid-19 que atirou tudo por terra. “Não foi fácil, tivemos de fechar”, diz.
Uns meses melhores, outros piores, “custou muito a recuperar”. Os fornecedores foram mudando, com a empreendedora a procurar sempre o melhor preço/benefício para se poder ajustar ao “poder de compra das pessoas”. A loja começou por contemplar roupa para mulher e homem, mas dada a fraca saída do vestuário masculino, decidiu focar a atenção no feminino. O calçado serve apenas para “compor montra”. O que se vende mais? “Vestidos compridos, em qualquer altura do ano. Os vestidos é o que vendo melhor”, conta.
Sobre trabalhar por conta própria, as vantagens são muitas. “Temos mais tempo para nós, não temos ninguém a mandar-nos fazer isto ou aquilo, posso levar o meu filho à escola, posso levar a minha bebé de 1 ano para a loja e criá-la até aos 3 anos”, enumera Carla Sofia Pinho. Mas nem tudo são rosas. “A grande desvantagem é que nem sempre temos ordenado. Se vendemos, ganhamos; se não vendemos, não ganhamos, enquanto a trabalhar por conta de outrem o ordenado é certo”, refere. E como se faz esta gestão? “Tenho o meu marido que trabalha e me ajuda nos meses mais baixos, que são os meses depois das férias – Janeiro, Setembro – e as mudanças de estação”, explica. O que acaba por diminuir as vendas é que “a roupa não é um bem essencial”.
Há coisas que se vão aprendendo quando se tem um negócio. “Por exemplo, quando comecei, contratei um contabilista da família e mais tarde apercebi-me que ele cobrava muito caro. Aquele dinheiro extra faz falta para outras coisas, então troquei. Devia ter-me informado melhor”, revela. Tudo o resto, “foi descobrindo”, como a parte burocrática e informática. “Já para as montras, eu sempre tive jeito”, afirma, confiante. Apesar da satisfação que tira de ter negócio próprio, Carla Sofia Pinho confessa que se fosse hoje, talvez não abrisse. “Está muito complicado. Se for um bem essencial, sim, mas nestas áreas não começaria. Não é uma boa altura para criar negócio”, afirma.