Mónica Oliveira
“Para se ser um bom mandador, é necessário ser um bom fazedor”
*Licenciada em Engenharia Biotecnológica, com experiência em trabalhos tão diferentes como consultoria em segurança alimentar, chefe de secção numa grande superfície e empregada de balcão no negócio da família, Mónica Oliveira acabou por enveredar pelo Marketing, depois de ser mãe, quando procurava um trabalho que gritasse independência. Hoje, guia empreendedores no caminho de definição de uma estratégia digital para os seus negócios. *
Mónica Oliveira é daquelas pessoas que já viveu muitas vidas numa vida. Formada em Engenharia Biotecnológica, trabalhou em indústria, foi consultora em segurança alimentar para pequenos negócios e colaboradora do grupo Auchan como chefe de secção dos frescos durante sete anos, até que “a vida virou de cabeça para baixo. Fui mãe e decidi que queria ter um negócio próprio, procurava ser independente”, conta. Despediu-se e, durante algum tempo, enquanto averiguava as suas opções, ajudou os pais no negócio da família, como empregada de balcão na padaria. Em 2017, trabalhar on-line afigurou-se como um caminho atrativo e Mónica Oliveira lançou-se como empreendedora digital, oferecendo cursos à distância na área em que reunia mais conhecimento, a segurança alimentar.
A doença que afetou a mãe, contudo, obrigou-a a parar e a “repensar toda a estrutura”. Aqui entra o Marketing Digital como alternativa promissora. “O que tinha feito para mim – a construção de páginas, desenvolvimento e captura – chamou a atenção de outra pessoa e ela desafiou-me para fazer esse trabalho. Recomendação atrás de recomendação, acabei por entrar neste mundo”, revela. Ao fim de algum tempo, “soube que tinha encontrado” a área certa e investiu em formação, encontrando-se atualmente perto de concluir a certificação em Marketing Digital com o empreendedor Ricardo Teixeira. “Muitos empreendedores focam no curto prazo e esquecem-se do resto, eu acredito que devemos focar-nos nos objetivos que queremos atingir a médio e longo prazo, é um dos pontos-chave”, declara.
O cerne do seu trabalho passa sobretudo pelas “ferramentas digitais. Ajudo os empreendedores a escolherem as ferramentas necessárias para o negócio e ensino-os a navegarem dentro do mundo digital”, explica, adiantando que notou nas pessoas que empreendem uma grande dificuldade em delinear uma “estratégia” para guiar o caminho que querem fazer. “Sabem que têm de ter site, redes, produtos para vender, mas não fazem ideia como estruturar as coisas com uma estratégia para alcançarem esses objetivos. O mundo on-line é muito mais rápido do que o presencial, é rápido a crescer e rápido a cair”, frisa, acrescentando que é preciso definir “para quem se quer falar e o que se quer dizer. Não é só fazer por fazer, é fazer de forma inteligente, e isto surpreende pessoas. Não podes estar à espera que venham ter contigo, és tu que tens de ir à procura delas e convidá-las para a tua loja”, salienta.
O que mais gosta no trabalho é “ajudar as pessoas” a alcançarem os seus objetivos. “Muitas vezes, seria mais fácil indicar-lhes o caminho, mas acho tão giro vê-las a chegarem lá por elas próprias, quando percebem qual a estratégia certa, o que faz sentido para o cliente e para o seu avatar. Infelizmente, vemos muito a estratégia Frankenstein, as pessoas não dão tempo para perceber se funcionou ou não, e isso provoca falta de credibilidade”, comenta. Mónica Oliveira acredita que “nem toda a gente tem perfil de empreendedor. Muita gente pensa só nos benefícios e não vê os impostos a pagar, os meses em que não se ganha nada, a instabilidade, não é para qualquer pessoa. Uma boa forma de autodiagnóstico para saber se a pessoa tem potencial de empreendedor é perceber se, na empresa onde trabalha, já é um ‘intraempreendedor’, aquela pessoa que, mesmo trabalhando por conta de outrem, tem ideias para um negócio que não é dela. Agora, se eu estiver numa empresa e valorizar a segurança, o ordenado, o horário fixo, saber o que vou fazer todos os dias, é melhor não sair de lá”, aconselha.
Curiosamente, a empreendedora dá a mesma resposta quando questionada sobre dificuldades e vantagens de trabalhar por conta própria: “Gestão de tempo”. Como dificuldade, “criar limites, tanto a nós mesmos, como aos nossos clientes. Empreender é algo muito isolado, até termos alguma segurança, andamos sozinhos, temos medos, receio de fazer perguntas e parecermos parvos”. Já como vantagem, “somos nós a definir o nosso horário. Posso optar por trabalhar ao domingo e folgar numa quarta-feira, é uma grande mais-valia, principalmente naquela fase em que tive de prestar apoio à minha mãe. Trabalhava à noite e prestava apoio nas consultas durante o dia. Escolhermos quando trabalhamos é bom”, refere. Outra grande vantagem, diz, é reunir na mesma pessoa uma grande variedade de competências. “Principalmente quando começamos, somos os únicos no negócio, então temos de aprender um bocadinho de tudo. É uma vantagem porque vai dar-nos capacidades e competências para que, quando tenhamos de pedir algo, sabermos exatamente aquilo que queremos. Para se ser um bom mandador, é necessário ser um bom fazedor. Sempre tive essa postura, de aprender como faziam para depois ensinar como fazer, e isso trouxe-me a vantagem de perceber de mais coisas para manter este estilo de vida que é o empreendedorismo”, revela.