Andreia Costa estava a “morrer por dentro” num trabalho que não lhe aquecia o coração e por isso decidiu, novamente, lançar-se por conta própria, mas desta vez em áreas que a apaixonam: cenografia, restauro e carpintaria. O trabalho tem sido muito, mas ainda não o suficiente para filtrar e escolher apenas o que quer realmente fazer. Sonha chegar a um patamar em que possa reservar tempo para criar não só para os outros, mas para si mesma.
“Manualidades é comigo, estudei Artes, mas depois a vida deu voltas”, começa a contar Andreia Costa, que durante muito tempo se afastou do que realmente queria fazer. O nascimento do filho foi o mote para se lançar por conta própria, a primeira vez, trabalhando com decoração de espaços infantis e intercalando com outros projetos e parcerias. A experiência não durou muito e acabou por empregar-se novamente por conta de outrem até que já não aguentou mais. “A parte financeira pesou e eu voltei a estar empregada numa área diferente da minha, mas estava a sentir-me a morrer por dentro. Trabalhava durante o dia e só me sentia bem à noite. Pensei ‘isto tem de acabar, tenho de me lançar’. Entretanto, reestruturaram a empresa onde eu estava e foi a minha oportunidade”, conta.
Transformar a adversidade em oportunidade é a verdadeira marca de um empreendedor e Andreia Costa recorreu à ALPE, depois de uma sessão de esclarecimento no IEFP, disposta a criar o próprio emprego. “Falaram-me neste tipo de entidades, procurei a que estava mais perto e fez toda a diferença. Fazer o plano de negócio e candidatura sozinha seria impensável, sou uma nulidade em burocracia”, comenta. Em setembro do ano passado, criou a Oficena, em S. João da Madeira. “Para me lançar, tinha de ser em algo que eu gosto: cenografia, restauro, carpintaria”, diz. Desde então, já conseguiu alguns trabalhos de peso, nomeadamente para a Câmara Municipal de S. João da Madeira.
Um dia nunca é igual ao outro
Os dias são sempre diferentes, passados entre a oficina em S. Roque, reuniões com clientes e tarefas da empresa. “O boca-a-boca vai trazendo reconhecimento e temos tido trabalho especialmente na área do restauro. As oportunidades trazem-me a possibilidade de experimentar coisas diferentes, já fiz decoração para casamentos, pintei fachadas, recuperei bancos de jardim, coloquei pladur, faço esculturas, quando me perguntam se faço algo penso logo ‘nunca fiz, mas deixa-me ver’, e esta engenharia mental funciona”, comenta. Como não é empreendedora de primeira viagem, já conhecia as dificuldades deste mundo, mas o gosto pela área alimenta-a. “O que me deixa mais feliz é fazer aquilo que eu gosto e fazer a gestão do meu próprio tempo”, frisa. Uma balança difícil de equilibrar entre tantas “contas e encargos”, o valor do apoio solicitado que veio mais “curto do que o esperado” e agora a responsabilidade de um funcionário contratado através dos programas de apoio ao emprego. “Ele desenha e pinta lindamente, é um perfeccionista. Às vezes chateio-me porque o cliente só paga para ‘lavar a cara’ ao móvel, mas ele demora-se no objeto porque quer que fique perfeito”, afirma, entre risos.
Tem pena que as pessoas não entendam “o trabalho que dá” todo o processo manual e pesa-lhe a “gestão de tudo” relacionado com o negócio. “O meu objetivo de futuro é poder filtrar clientes, estar financeiramente segura, com encomendas certas, para recusar trabalho e poder ter tempo para desenvolver as minhas próprias criações, produzir trabalhos originais que possa depois vender. Neste momento, preciso de ganhar dinheiro e não consigo criar para mim, só para os outros”, explica.
Para futuros empreendedores, deixa o mote: “Vão atrás dos sonhos, do que é importante para vocês. Nunca fiquei num sítio onde não estivesse feliz, mas para se ser feliz é preciso bastante esforço. Temos de programar bem, especialmente a questão financeira”.