Ternura Care
“Nunca mais quero ver nos olhos de um filho aquilo que vi nos olhos da pessoa que me inspirou a criar este negócio”
Lisete Centenico fundou a Ternura Care com o objetivo de atenuar o sofrimento de quem tem familiares a precisar de cuidados e não encontra quem os ajude. Iniciou o projeto em fevereiro deste ano e já tem uma agenda tão cheia que está em processo de contratação da primeira funcionária. A empresa tem disponíveis todos os serviços de cuidados ao domicílio, seja higiene, vigilância ou apenas companhia, e opera em 14 concelhos da região Norte e Centro do país.
Tudo começou, na verdade, há 12 anos, quando Lisete Centenico conheceu em Lamego Donzelina e António, mãe e filho que a marcaram para sempre.
“A senhora tinha tido vários AVC, estava acamada, e o filho preocupava-se muito com a mãe porque não encontrava quem cuidasse dela em casa. Naquela altura, não existiam este tipo de empresas de cuidados ao domicílio privadas, só as IPSS prestavam este serviço”, recorda. Havia uma grande dificuldade em encontrar quem cuidasse durante a noite e ao fim-de-semana e a empreendedora nunca esqueceu esta lacuna de mercado identificada.
O trabalho na área social continuou a ocupar-lhe o tempo até que uma situação de desemprego levou-a a bater à porta da ALPE por recomendação do IEFP. “Já ia com a ideia de criar o próprio negócio, ainda ponderei outras ideias mas esta acabou por vingar”, confessa, lembrando a advertência inicial de que outras empresas do género tinham tentado e falhado, o que a levou a pôr de lado o projeto durante algum tempo e tentar outras vias. “Comecei a enveredar por outras ideias de negócio, mas não era aquilo que eu tinha na mente e no coração, andei perdida e acabei por regressar à ideia mãe que trazia de Lamego para que nunca mais tivesse de ver nos olhos de um filho o que vi nos olhos do Sr. António”, revela.
Assim, em 24 de fevereiro de 2022 é criada a Ternura Care. “A ALPE ajudou no processo de encontrar o caminho e criar o negócio. Constituí a empresa num dia que não foi muito feliz para o mundo, o dia em que começou a guerra Rússia-Ucrânia, mas foi feliz para a Ternura Care”, afirma. Nos primeiros meses, foi difícil, “não havia clientes e começou a ficar preocupada”, mas a persistência compensou porque agora não tem mãos a medir. “Já estou a precisar de contratar porque em poucos meses já tenho clientes suficientes para não me restar tempo livre, não sei para onde me virar para satisfazer todos os clientes, tem estado a correr bem”, afirma.
Apoio do + Coeso Emprego e experiência anterior de responsabilidade
Em todo este processo, conta com a ajuda de quem a orienta no âmbito do programa + Coeso Emprego. “Tudo é um desafio porque estou sozinha mas tenho apoio na parte burocrática”, refere. Lisete Centenico, porém, não é estranha ao mundo da grande responsabilidade. “A minha anterior experiência profissional em Lamego, como diretora técnica da instituição, também me deu algumas valências para o empreendedorismo porque exigia flexibilidade e polivalência por isso sentia-me pronta para avançar com um projeto próprio”, explica.
A Ternura Care toma conta de “todas as pessoas que estejam fragilizadas física ou psicologicamente, como quem teve alta hospitalar, está em convalescença, com depressão, seja de que idade for. Os serviços são prestados ao domicílio – higiene pessoal, vigilância, companhia – todos os dias do ano (dias, noites, feriados, fins-de-semana). Adaptamos às necessidades das pessoas, são elas que fazem horários”, salienta. Cobre 14 concelhos do Norte e Centro do país e vai “caminhando devagarinho. A informação vai passando, vou crescendo a pouco e pouco, as coisas têm surgido de forma faseada. Quando é necessário, tenho contratado prestadores de serviços: enfermeiros, fisioterapeutas, médicos”, comenta. A grande maioria dos seus clientes são familiares das pessoas que precisam de cuidados e que seguem recomendações dos parceiros que Lisete Centenico foi conseguindo: serviços de Ação Social do Hospital, Juntas de Freguesia, instituições que têm serviço de apoio domiciliário, mas não fazem todos os horários. “Nós complementamos o serviço que elas fazem, elas têm listas de espera grandes e podemos dar essa resposta enquanto não têm vaga”, afirma. Normalmente, o serviço nunca é pontual, mas sim “continuado e prolongado. Temos muitas situações de demência”, refere.
Como conselhos para quem queira seguir o mundo do empreendedorismo, Liste Centenico é clara: “O caminho é difícil, ninguém pense que não é, é um desafio. Nos primeiros meses, começamos a ficar preocupados, a pensar ‘se calhar não valeu a pena, não é nada fácil’, mas há que confiar. O caminho é árduo, mas vale a pena”, afirma, salientando o papel importante da ALPE em todo este processo. “A ALPE ajuda-nos a dar os primeiros passos a avançar. Não conseguiria sair das ideias nem pô-las no papel se não tivesse sido a ALPE. Devo à Dra. Adélia Antunes estar no terreno por isso o meu grande conselho é: agarrem-se à ALPE e avancem porque quem não arrisca não petisca. Se têm boas ideias, tentem colocá-las em prática”, declara.